Querido pai,
Recebemos sua carta! Mamãe me disse que eu não posso lhe enviar uma resposta porque nada é entregue em Sarajevo. Por isso escrevo-lhe de volta em um caderno, que você lerá quando retornarmos a nos encontrar.
Já faz seis meses desde que saímos de Sarajevo no ônibus sem janelas. Enquanto o ônbus partia eu lhe via acenar e lhe acompanhei com o olhar até se perder à distância. “É bom que o ônibus não tenha janelas”, pensei, “caso contrário eu ficara enjoado”. Passamos por soldados que ocasionalmente gritavam algo para a gente. Todos vestiam uniformes de cor diferente.
Aí o ônibus quebrou, bem ao lado de um grupo de soldados. Eles ordenaram que todos saíssem do ônbus e começaram a revistar toda a bagagem. Um deles, com chapéu de cowboy e bigode, falava em inglês com outro soldado de boina azul. Ele reparou que eu o observava, deu tapinhas na minha cabeça e me disse: “Não se preocupe, tudo vai ficar bem”.
Esperamos todos juntos pelo próximo ônibus. Quando ele finalmente chegou, já estava lotado e tinha janelas. Eu sabia que ia enjoar.
Mamãe abriu caminho no meio da multidão e conseguimos lugares no ônibus. Ela disse que se juntaria a nós assim que pegasse nossas mochilas. Eu fiquei com Stane no um ônibus superlotado, tentando ver a porta. Quando o ônibus começou a andar, comecei a chorar, apertando os ombros de Stane. A próxima coisa que me lembro são as pessoas ao meu redor sendo afetuosas e dizendo: “Não se preocupe, olha lá, sua mãe está aqui.”
Eu vomitei naquele ônibus.
Eu me lembro de você dizendo que se juntaria a nós em breve e que enquanto isso, a gente deveria aproveitar Belgrado. Mas não estamos em Belgrado. Estamos em uma pequena vila do interior chamada Divljana, perto de Niš, em uma colônia de férias1 chamada “Sutjeska”. Espero que você venha pra cá em breve.
Com muito amor, Mamãe, Stane e eu.